Na minha jornada pelo MBA da MIT (Massachusetts Institute of Technology) tive a sorte de conhecer professores e colegas que me deram lições para a vida toda. Já refleti em um dos meus artigos sobre o efeito que pode ter sobre a carreira profissional a aplicação para um MBA internacional. Desta vez, minha contribuição é trazer um pouco do que respirei por lá e que se tornaram bússolas para direcionar a construção do meu presente e futuro profissional (e também pessoal).

De tudo que li e ouvi, separei 7 pérolas que acredito, despretensiosamente, possam também te ajudar a buscar a realização dos seus sonhos na carreira.

Mas antes de nos debruçarmos sobre cada uma delas é válido um alerta. Não aposte em receitas infalíveis, especialmente em um momento que a nova economia é pautada pela constante inovação e o mercado de trabalho passa por profundas transformações decorrentes, principalmente, da digitalização dos negócios.

O principal motor da sua trajetória de sucesso, lembre-se, é e sempre será você mesmo – Você S.A.

Dito isso, vamos às pérolas. Procure ler e interpretar cada uma delas sob a ótica particular da sua carreira e vida pessoal. Faça uma reflexão de como suas atitudes se encaixam (ou não) no seu dia a dia, seja você um empreendedor ou um executivo intraempreendedor. Sim, não há e não haverá mais espaço para quem não tiver a postura de agir como se realmente fosse o dono do negócio ao qual se dedica todos os dias.


1- Propósito.

É fato: nos sentimos mais plenos e felizes quando temos um claro propósito de vida. A falta de propósito traz um vazio, sentimento que me arrebatou quando decidi mergulhar de cabeça no meu MBA. Eu estava esgotado do que vinha fazendo e não via mais sentido em permanecer na mesma rotina, na mesma estrada. Precisava de um novo propósito.

No meu caso, decidi fazer uma transição de um empreendedor de startups para um intraempreendedor em uma empresa de tecnologia global, exponencial e considerada modelo de inovação.

Quando entramos no ‘delivery mode’, fazendo mais do mesmo, a rotina se torna cansativa e nada motivante. Foi o que aconteceu comigo, mas seguindo uma lógica inversa de sair do mercado corporativo para empreender.

Minha zona de conforto era fundar startups e sentia que este não era mais meu combustível. Eu precisava de um novo desafio e descobri no MIT que este ‘shift’ seria justamente atravessar a ponte do empreendedorismo para o intraempreendedorismo.

Trabalhar agora em uma grande empresa reúne uma série de vantagens, especialmente porque compartilho dos mesmos valores da organização. Não deixei de empreender e sinto ter a mesma autonomia de um empreendedor, mas com uma excelente estrutura, branding, capital humano qualificado e capital financeiro disponível; tudo que uma startup luta para conquistar. Este é meu novo propósito.

Se você está se sentindo desconfortável e acorda todos os dias desmotivado para cumprir seus desafios, ótimo! É esta hora de partir em busca de um novo propósito que te traga satisfação, felicidade e realização.


2- Aprendizado Contínuo

“If I see further than others is by standing on the shoulders of giants” (Se eu vejo além é porque me coloco sobre os ombros dos gigantes). Essa é uma frase célebre de Isaac Newton que aborda a importância do contínuo aprendizado dos grandes líderes. Para ser um deles, é essencial ler muita e manter-se sempre atualizado. Se tem algo que aprendi no MBA é a importância do aprendizado contínuo através da leitura.

Sempre ouvimos por aí que a vida em si já é uma escola. Mas e se pudéssemos acelerar nossa curva de aprendizado inspirados pelas pérolas de grandes líderes? Como balancear o tempo entre vida profissional, pessoal e acadêmica?

Grandes líderes sempre reservam um tempo obrigatório para leitura. Com uma rotina cada vez mais multitarefa, uma alternativa interessante, fica a dica, são os audiobooks, que podem ser ouvidos naquele tempinho que está no trânsito, na academia, no metro ou em qualquer horário livre. Seja com audiobooks, ebooks, livros impressos ou com mentores reais, aprender nunca é demais.

No momento, também recomendo, estou lendo um livro sobre leitura dinâmica – “10 Days for Faster Reading”, do autor Abby Marks Beale. Quero tornar minha leitura mais eficiente e aumentar o conteúdo que sou capaz de absorver, o que ajudará no meu aprendizado contínuo e em me tornar um expert na minha área de interesse.


3- O Poder do QI (Quem Indica)

Esta é inerente à vida. Você é fruto do seu meio social. Quem você conhece, quem te reconhece, quem te admira, quem te apoia e quem acredita em você não só faz toda diferença como é determinante para chegar onde quer.

O MIT foi fundamental para mudar meu mindset e me credenciar para buscar a posição que almejava, mas foi meu network que me trouxe até aqui. Meu sonho de trabalhar em uma empresa de tecnologia que dita tendências na transformação digital só foi realizado por causa da minha rede de contatos.

Além de ativar sua rede, procure também ter sempre bons mentores. São eles que te ajudarão na sua curva de aprendizado e darão os melhores conselhos com base na experiência que reuniram ao longo da vida profissional.

Vale a lembrança: já não se faz mais network como antigamente. Sua persona digital é sua mesma persona que está nos eventos, que faz palestras, que troca oportunidades no happy hour. Cultive seu perfil social digital. Conecte-se, siga, compartilhe, curta quem você admira e com quem deseja construir seu propósito.

Como está sua página no LinkedIn? Que blogs acompanha? Quem você segue? Quem te segue? Não existir digitalmente significa hoje não existir socialmente.


4- Escute mais do que fale; pergunte mais do que afirme

Em “Humble Inquiry – The Gentle Art of Asking Instead of Telling”, Edgar Chein ensina a mais importante das artes: perguntar com humildade.

O maior erro de quem entra numa nova empresa é querer “chegar chegando”, entrar com o pé na porta trazendo soluções mirabolantes. A ansiedade de querer mostrar serviço pode até ser bem recebida pela chefia, mas é arriscada porque traz a reboque a enorme chance de ser visto por seus colegas como uma ameaça e a inimizade será uma grande barreira para sua evolução na empresa.

Não caia nessa. Antes de agir como uma metralhadora giratória de sugestões sem pé nem cabeça, faça sua lição de casa. Mergulhe no universo e na cultura da empresa. Tenha a clareza de que seus colegas estão lá há muito mais tempo que você e já construíram uma reputação e uma rede de aliados.

Ao invés de assertividade, questionamento. Se quiser que suas ideias sejam bem aceitas, antes de apresentá-las, conquiste a confiança de seus pares. Conecte-se com as pessoas certas e procure extrair o melhor dos outros e aprenda com eles. Calce as sandálias da humildade e procure fazer perguntas que irão ser fundamentais para te ajudar a formar seus conceitos e visões para contribuir efetivamente com o desenvolvimento da corporação.


5- Identifique as redes informais

Esta pérola é uma das lições mais importantes que aprendi na MIT. É preciosa. O professor John Van Maanen, que leciona Leading Organizations, ressalta a existência de verdadeiras redes informais de poder que estão, acreditem, acima da hierarquia formal da organização.

Esta turma não está enquadrada no organograma da empresa e sua influência não está necessariamente relacionada com o cargo que apresenta no cartão de visitas. Por vezes é um gerente com maior poder, na prática, do que um diretor. Ou um diretor mais influente que um VP.

Se souber identificar estas pessoas, suas chances de emplacar seus projetos serão infinitamente maiores. Nem sempre seu chefe é quem assina embaixo, mas ele pode ser levado a dar o sinal verde se um outro colega que tem forte influência sobre ele for seu aliado.


6- Metas e Métricas

Peter Drucker é enfático: “you can’t manage what you can’t measure”. Em outras palavras, é impossível afirmar que está tendo sucesso ou não sem a existência de indicadores claros de performance.

Se não entender como será avaliado, certamente estará perdido no que precisa realmente perseguir e dedicar seu tempo. Saiba claramente quais são os indicadores de performance que definirão sua trajetória e sua ascensão na organização. Do contrário, correrá o grande risco de se frustrar e ficar estagnado, especialmente em empresas que seguem um sistema meritocrático. Não basta ser amigo do Rei, é essencial apresentar resultados.

John Doerr, investidor do Google, implementou na companhia o sistema Objectives and Key Results (OKRs), uma maneira eficaz de estabelecer e quantificar o progresso de metas ao conectar o time e focar todos a atingir resultados mensuráveis. Se você não conseguir apresentá-los, certamente não irá colher os merecidos louros.


7- Saber o que não é sabido

Esta é pra fechar. Você só conseguirá ser inovador se buscar o desconhecido. É isto que fará toda diferença para empresa. Em meu artigo sobre como ser um líder inovador sublinho que é preciso sair da sua bolha, mais ouvir do que falar, fazer as perguntas certas e enaltecer o erro.

Não ter medo de errar, merece o reforço, é a única saída para enxergar o que ninguém está enxergando, rever conceitos e trazer a cultura da inovação para o negócio.

Se quer inovar de verdade, siga o lema fail fast – learn faster (falhe rapidamente – aprenda mais rapidamente), uma cultura que ainda não está arraigada entre os brasileiros. Muitos se tornam empreendedores por necessidade e não por desejo. Mas isso está mudando e, para dar certo, é mandatório perder o medo de falhar por achar que será dispensado. Para não cometer erros no futuro só há um caminho: aprender com os erros do passado.

Para revelar o desconhecido, o que está além do que seus olhos podem ver, fica a dica – o simples tem muito mais chances de dar certo do que o complexo. As boas ideias podem estar em qualquer lugar da organização, não importa a posição. Muitas vezes, a moça do café pode ser a melhor conselheira.

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Não esqueça que o que importa, no final do dia, é quem você é, o que sabe e como consegue aplicar seu conhecimento para fazer a diferença na sua carreira e na da empresa onde ou para qual trabalha.

Em um mundo cada vez mais competitivo, o nível de exigência, naturalmente, não para de subir, assim como você também está (ou deveria estar) cada vez mais exigente.

Minhas 7 pérolas estão aí e espero que te ajudem a traçar um plano de ação para se tornar um agente de transformação. E você? Quais as suas pérolas? Comente, compartilhe, contribua.

Leia meus outros artigos sobre empreendedorismo, inovação, liderança e temas correlatos no meu LinkedIn e no meu blog.

(*) Venâncio Velloso é empreendedor, fundador do WebPesados e da consultoria DIB (Digital Innovation Builders). Acaba de retornar ao Brasil depois de uma temporada em Cambridge, onde foi cursar MBA na MIT (Massachusetts Institute of Technology).